Denise Fraga, a crença no poder da gentileza e a “desumanização” da sociedade

Atriz, que falou direto de Portugal, foi o principal destaque da noite da última quarta-feira (20), em evento comemorativo aos 50 anos da UniRitter

Rômulo Vizzotto
4 min readNov 17, 2021

Por Rômulo Vizzotto (reportagem escrita para a Agência INQ em 21 de outubro de 2021, disponível no site da Faculdade de Comunicação Social da UniRitter)

Atriz falou direto de Portugal, onde está gravando filme (Foto: Reprodução)

A UniRitter teve um dia inesquecível. Ou melhor dizendo, uma noite. A instituição comemorou, na última quarta-feira, seus 50 anos de trajetória, completados oficialmente no último dia 18 de outubro. Noite para celebrar, recordar e homenagear. Com o mote “Toda história tem um protagonista. A nossa tem vários!”, o evento comemorativo, comandado pela diretora geral da UniRitter, Rachel Ballardin, e pelo professor de Enfermagem Tiago Paiva, contou com uma homenagem a quem ajudou a construir a história do Centro Universitário Ritter dos Reis, além de uma palestra especial da atriz Denise Fraga.

A noite comemorativa teve a presença do presidente da Ânima Educação, Marcelo Bueno, do diretor da Regional Sul, Rogério Loureiro, além da vice-presidente de Gestão de Cultura e Pessoas, Carol Marra, e da gerente de Gestão de Cultura e Pessoas, Karen Daldon. Antes da palestra, foram lançados o institucional de 50 anos da universidade e a campanha “Compartilha que Alimenta”, onde a cada quilo de alimento não-perecível doado nas bibliotecas dos campi Canoas, Zona Sul e Fapa, a UniRitter irá adicionar mais um quilo, dobrando a doação. A campanha acontecerá até 20 de dezembro.

Também foi o momento de homenagear 50 pessoas que fizeram parte da história da instituição, estudantes, colaboradores e ex-colaboradores e parceiros, entre eles Flávio Reis, filho do advogado, professor e fundador da UniRitter, Romeu Ritter dos Reis (1915–1993), que relembrou a história da UniRitter. Também foram apresentadas novidades e melhorias nos campi da UniRitter em Canoas e na Zona Sul de Porto Alegre.

Direto de Portugal: Denise Fraga

A atriz Denise Fraga, inquieta por natureza, foi a principal atração da noite de comemoração dos 50 anos da UniRitter, com a palestra intitulada “Protagonistas de um novo mundo”. Falando de Lisboa, em Portugal, onde está gravando um filme, Denise se sentiu grata pela “santa tecnologia que nos agrega” para se fazer presente no evento. Disse que o título de “palestrante” a assusta e deixa nervosa diante do público, mesmo sendo atriz. “Mas nada supera uma plateia”, lamentou Denise, por não vê-los de forma presencial.

Além de falar sobre como nos distanciamos de nós a partir de olhar a caminhada do outro, a atriz destacou como a tecnologia, que nos aproximou e vem nos ajudando, principalmente com a pandemia, acabou transformando as nossas relações e contribui para falta de aprofundamento do ser humano. “As pessoas estão cheias de palavras, mas com a atenção muito pulverizada, dinamitada, com o número de informação que recebemos todo dia. A quantidade do que a gente recebe é quase violenta e não damos conta”, disse.

Denise afirmou que estamos sendo “reformatados pela tecnologia” e que, com o avanço dela, nos tornamos mais letárgicos e consumidos por algo que o ser humano criou como um suporte. Para ela, a tecnologia compromete a gentileza e a educação, além de criar uma “escola de juízes fajutos”, bem como as clássicas bolhas que se formaram com o avanço mais forte da internet.

A atriz ressaltou que o mundo anda cada vez mais hostil, mas crê no que chama de “poder da gentileza”, pois vê uma grande eficácia neste tipo de caráter, mas sem abusos. Denise tomou como exemplo a peça “A Alma Boa de Szechwan”, do alemão Bertolt Brecht, onde uma mulher, dona de uma tabacaria que não sabia dizer “não”, se vestiu como um homem para conseguir respeito e comandar a loja, que estava indo de mal a pior, e diz que o ser humano toma a dureza como regra principal, pois se for muito gentil, pode acabar sendo passado para trás.

Denise disse ainda que estamos vivendo uma “desumanização” da sociedade e que precisamos lutar contra esse movimento, nadar contra a corrente para, principalmente, cuidar da nossa saúde mental. Para ela, antes mesmo da pandemia de covid-19, vivíamos uma mais oculta, que se tornou mais expressiva: a de crises de ansiedade. Destacou ainda, retomando o assunto de tecnologia, que o celular, sem dúvida alguma, nos colocou para fora da nossa natureza.

A atriz, que tem no teatro a sua grande paixão, disse que o palco dá a palavra para quem não consegue falar, devido ao tanto de informação que recebe. “Eu vejo como as pessoas fazem reações curiosas, como balançar a cabeça. É uma reação que eu não via no teatro”, comentou a atriz, dizendo ainda que o tablado dá voz às angústias de quem assiste, a partir da escolha de textos de autores de sua preferência.

“Como a gente sai dessa cilada que entramos?”

Denise sustentou que precisamos exercer nosso papel no mundo e desenvolver ainda mais sentimentos como os da empatia, solidariedade e, mais do que tudo, a indignação. “Nós precisamos fazer exercícios no jogo da vida. Estar na vida”. A atriz disse que o ser humano possui a falsa ilusão de que não é solidário, o que, na verdade, tem como instinto. Ressaltou ainda que, mesmo com a vida louca que temos, precisamos nos jogar e viver, citando o autor Guimarães Rosa na obra “Grande Sertão: Veredas”: “Viver é muito perigoso. Porque aprender a viver é que é o viver mesmo”.

Para ela, ser protagonista é trabalhar nas pequenas coisas, como a troca de um “bom dia” no elevador, além do exercício da escuta. “A gente precisa de paciência hoje para escutar, abrir os ouvidos, porque nós estamos com a nossa atenção estragada”. Reforçou que precisamos trabalhar mais a nossa indignação, fazer revolução, sermos inquietos com o que está acontecendo, lutar pela nossa generosidade, afeto, curiosidade e doar nossa criatividade à nossa existência e não a montagens de slides. “Se a gente tem uma revolução a fazer, é a revolução da disponibilidade, da escuta, da paciência”.

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Rômulo Vizzotto

Estudante de Jornalismo. Há 27 anos tendo dúvidas, erros e alguns acertos nessa vida.