O like que tava aqui agora não tá mais

O Instagram escondeu, em julho, as curtidas no aplicativo, para que a rede social seja menos tóxica e mais prazerosa. Altas taxas de suicídio e “vidas irreais” foram alguns dos motivos

Rômulo Vizzotto
4 min readOct 2, 2020

Matéria escrita para o Informativo Online do TJRS

Todo mundo adora tirar uma foto bonita para postar no Instagram. Seja uma selfie, foto do animal de estimação ou uma paisagem, quem usa a famosa rede social, assim como outras — Twitter ou Facebook, por exemplo -, irá receber sempre o carinho dos amigos, familiares e outros seguidores. E não é só de comentários que estamos falando.

Quem nunca por aí viu uma foto com centenas de milhares de curtidas? Os likes servem, hoje em dia, como uma espécie de afago para a mente, principalmente para os jovens que já nasceram conectados ou que foram introduzidos à tecnologia e sua rápida evolução. O engajamento se tornou um alicerce para que as pessoas se tornassem mais dependentes das redes sociais, seja onde estiverem.

O lado negativo disso? A exposição das pessoas passou a ser tanta que, para ser bem visto e aceito, a vida que o usuário precisa ter nas redes é algo muito além da realidade. E o que será dito agora, provavelmente não será uma surpresa: um estudo da Royal Society for Public Health, instituição de saúde pública do Reino Unido, em parceria com o Movimento de Saúde Jovem, mostra que as redes sociais são mais viciantes que o álcool e o cigarro. E que o Instagram é a rede social com o maior impacto negativo à saúde mental.

Ainda segundo o estudo, além de atingir fortemente o sono e a autoimagem do usuário, o Instagram contribui para algo chamado FoMO, sigla em inglês para Fear of Missing Out ou o medo de estar por fora dos assuntos. Segundo a pesquisa, a plataforma menos nociva é o YouTube, seguido do Twitter.

Diante disso tudo, a rede social de fotos e vídeos do Facebook tomou uma forte iniciativa. Em julho, o Instagram escondeu os likes de modo público para tornar-se um espaço menos tóxico e mais prazeroso para os usuários. A medida ainda é um teste e o Brasil está entre os países com as curtidas ocultadas. O teste começou em maio deste ano no Canadá.

A medida tomada pelo Instagram pretende, também, evitar a competição entre usuários. Afinal, para eles, as curtidas importam bastante e quanto mais curtidas aparecerem, melhor para se sentirem bem. O que é visto por uns como algo positivo, para outros não é bem assim. Estes “outros” são, principalmente, influenciadores digitais. Alguns não veem com bons olhos essa medida, pois, segundo eles, isso implicaria nas postagens publicitárias — que, diferente daquelas que contêm a hashtag #ad, aparecem abaixo do nome do usuário como “parceria paga com (nome da empresa)”.

“O piloto da tua vida és tu mesmo”

A Psicóloga Miriam Lopes Vucetic, da DIGEP, afirma que o processo de globalização e a entrada nas redes sociais foi e ainda é rápido. Com isso, segundo ela, as áreas de saúde não estavam preparadas para esse processo e ainda não existem tantos materiais suficientes que possam dar conta desse tipo de situação.

Durante a entrevista, Miriam relembra algo que já foi dito aqui: os rótulos que a sociedade impõe. Como consequência, por exemplo, meninas entre 10 e 12 anos se arrumam como adultas e as pessoas ficam mais vaidosas que o normal. A profissional cita o caso da cantora Madonna por causa um detalhe: o pé. “Conseguiram criticar os dedos do pé dela. Não estava nem sujo, nem nada, mas é que parecia feio mesmo”.

Miriam vê com positividade a medida de esconder os likes do Instagram e fica feliz que políticas públicas estão sendo criadas para combater, principalmente, a alta taxa de suicídios e depressão devido às redes sociais.

A Psicóloga afirma que a principal coisa a se fazer é investir na própria estrutura psicológica e se desprender dos rótulos e das curtidas. E é claro que não é só isso. Confira algumas dicas do que você pode fazer para se cuidar em meio a loucura das redes sociais:

  • Rotinas frente às redes sociais: ajuste das configurações, como a inibição de estímulos persistentes (notificações), desativação de comentários, dentre outros;
  • Caso o seu perfil tenha um número expressivo de seguidores, importante que crie uma conta pessoal bem restrita, onde poderá se comunicar com maior espontaneidade e confiança, e uma conta pública onde cuide mais com o conteúdo publicado (conteúdo visual e escrito);
  • Autodisciplina e novos hábitos: Miriam fala sobre o Mindfulness (ou Atenção Plena), por meio de exercícios de meditação e outras atividades que explorem os sentidos e estimulem a presença no aqui e agora, de modo a restabelecer o equilíbrio e recarga de energia.

Poesia com rapadura

Ok, eu sei que isso não é a TV, mas o nosso “Encontro” nesta matéria se encerra com uma poesia do poeta cearense Bráulio Bessa, chamada “A curtida sumiu”, justamente sobre as curtidas ocultadas no Instagram:

“Quando a curtida sumiu

também sumiu a vaidade

que alimenta a disputa

de tal popularidade.

Relaxe, não enlouqueça

talvez assim apareça

quem lhe curta de verdade.”

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Rômulo Vizzotto

Estudante de Jornalismo. Há 27 anos tendo dúvidas, erros e alguns acertos nessa vida.